Sistemas em Software Livre para Bibliotecas
Sistemas em Software Livre para Bibliotecas

Na sociedade da informação, as bibliotecas enfrentam o desafio constante de modernizar a gestão de seus acervos e serviços digitais, muitas vezes lidando com orçamentos reduzidos. Para otimizar rotinas e garantir a recuperação ágil da informação, a adoção de Sistemas Integrados de Gestão de Bibliotecas (SIGB) torna-se fundamental.
Nesse cenário, o Software Livre (SL) como o Koha, amplamente utilizado globalmente, e o Biblivre, muito adotado no Brasil surge como uma alternativa estratégica e acessível. A filosofia do SL garante liberdade de uso, cópia, modificação e redistribuição do código fonte, resultando em custos operacionais reduzidos (especialmente na aquisição de licenças) e maior possibilidade de customização conforme as necessidades específicas da unidade de informação.
No entanto, migrar para soluções de código aberto ou implantá-las pela primeira vez é um processo complexo. Exige planejamento estratégico, migração e tratamento de dados bibliográficos, além da avaliação rigorosa das funcionalidades para garantir que o sistema atenda às demandas básicas da biblioteca. Assim, o foco principal é analisar experiências de implementação e avaliação desses softwares, destacando o impacto da liberdade tecnológica na gestão da informação.
Koha: um SIGB globalmente adotado
O Koha é um Sistema Integrado de Gestão de Bibliotecas (SIGB) de código aberto voltado ao apoio das atividades cotidianas das bibliotecas.
Contexto e adoção mundial
Reconhecido como o software livre para bibliotecas mais utilizado no mundo, o Koha foi adotado oficialmente por países como Turquia e Filipinas em suas bibliotecas públicas. No Brasil, apesar dessa popularidade global, ainda é considerado pouco conhecido por parte dos bibliotecários e docentes da área. Instituições como o Ibict oferecem documentação, cartilhas e orientações sobre o uso e gerenciamento do Koha.
Funcionalidades e estrutura
O Koha opera em múltiplos módulos que atendem às tarefas essenciais das bibliotecas:
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Catalogação: Oferece todas as funcionalidades de processamento técnico, incluindo preenchimento de campos MARC.
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Circulação e usuários: Controle de empréstimos, devoluções e gerenciamento de cadastros.
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OPAC: Interface pública de busca voltada aos usuários.
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Módulos adicionais: Autoridades, Aquisição, Periódicos, Relatórios, Ferramentas e Administração.
Graças à ampla gama de funções, apresenta excelente relação custo-benefício e pode ser adotado em bibliotecas públicas, escolares e universitárias.
Implementação e suporte
A migração de dados comum para quem utiliza PHL ou Pergamum tende a ser facilitada pela estrutura MARC do Koha, embora demande atenção e conhecimento técnico. O software possui uma comunidade internacional ativa, que colabora para discutir melhorias, resolver erros e oferecer suporte mútuo, fortalecendo ainda mais sua disseminação.
Biblivre: software livre brasileiro para unidades de informação
Criado em 2005 por profissionais de Informática e Biblioteconomia, o Biblivre é uma ferramenta gratuita voltada a bibliotecas de qualquer porte, com forte propósito social de combate à exclusão digital.
Propósito e desenvolvimento
Licenciado sob GPLv3 ou LGPL, o Biblivre contou com apoio da SABIN, COPPE/UFRJ e patrocínio do Itaú Cultural. Seu objetivo é oferecer um sistema de automação acessível, baseado nos princípios do software livre.
Funcionalidades e conformidade técnica
Seus módulos atendem às principais rotinas da biblioteca:
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Busca: Autor, título, assunto, ISBN etc.
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Circulação: Cadastro, empréstimo, devolução, renovação e reservas.
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Catalogação: Compatível com padrões como AACR2.
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Aquisição: Gerenciamento de fornecedores, editores e orçamentos.
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Administração e Ajuda.
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OPAC: Acesso público ao acervo.
Do ponto de vista técnico, utiliza padrões como MARC e Z39.50, possibilitando comunicação em rede e compatibilidade com diversos sistemas operacionais (Windows, Linux e UNIX).
Utilização e suporte
O Biblivre é utilizado por cerca de 2000 bibliotecas no Brasil, além de instituições em Angola, Moçambique, Portugal e Estados Unidos. Atualizações gratuitas e suporte por fóruns e manuais ajudam a minimizar receios quanto à ausência de suporte técnico tradicional.
Por que o Software Livre é relevante para as bibliotecas?
A relevância dos Sistemas em Software Livre se sustenta em três pilares:
1. Viabilidade Financeira
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Elimina custos de licenciamento.
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É amplamente usado em instituições públicas (61% dos pesquisados).
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Reduz custos operacionais pela robustez e confiabilidade.
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O modelo de negócio baseia-se em serviços (treinamento, suporte, adaptação), e não em licenças.
2. Liberdade Tecnológica e Customização
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Acesso ao código fonte garante quatro liberdades: executar, estudar, modificar e redistribuir.
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Evita dependência de tecnologias proprietárias.
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Possibilita customizações para atender demandas específicas.
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Desenvolvimento colaborativo e atualizações contínuas fortalecem a qualidade do sistema.
3. Capacidade Operacional e Padronização
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Atende rotinas essenciais: aquisição, circulação, processamento técnico, recuperação da informação e gestão.
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Utiliza padrões internacionais como MARC e Z39.50, facilitando migração e interoperabilidade.
Em síntese, o software livre moderniza processos, amplia a autonomia tecnológica e promove inclusão digital.
A atuação do bibliotecário no contexto dos SIGBs e do Software Livre
O papel do bibliotecário é decisivo para o sucesso da automação. Sua atuação envolve relações técnicas, profissionais e humanas.
1. Relação com a Tecnologia
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É o principal gestor do processo de automação.
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Necessita domínio técnico para escolher o software e definir requisitos.
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Atua na migração de dados (PHL/Pergamum → Koha, por exemplo).
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Configura e customiza o sistema conforme a realidade da biblioteca.
2. Relação com outros profissionais
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Implementação de SL exige colaboração com equipes de TI.
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Bibliotecários lideram o processo, seguidos por funcionários da instituição e profissionais de TI.
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O diálogo interdisciplinar é essencial para o desenvolvimento de softwares como mostra o caso do Biblivre.
3. Relação com os usuários e o Serviço de Referência
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O bibliotecário de referência é mediador, orientador e avaliador da qualidade informacional.
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No ambiente digital, atua como filtro, instrutor e negociador de recursos.
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Habilidades interpessoais e competências de information literacy são fundamentais.
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Práticas como embedded librarianship fortalecem a presença do bibliotecário nos espaços de pesquisa.
4. Relação com a formação profissional
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A falta de familiaridade com o Koha entre docentes e profissionais brasileiros indica falhas na formação acadêmica.
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Docentes que o usam adotam o software como ferramenta didática.
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A formação precisa incluir competências em comunicação, informática e gestão.
Software Livre como ferramenta estratégica para a modernização das bibliotecas
A adoção de SIGBs baseados em Software Livre, como Koha e Biblivre, é uma alternativa viável para modernizar bibliotecas em contexto de restrição orçamentária.
Sua importância se fundamenta em:
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Vantagem econômica: elimina custos de licenciamento e favorece instituições públicas.
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Liberdade tecnológica: permite uso, estudo, modificação e redistribuição do código.
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Execução estratégica: exige planejamento, migração cuidadosa e atuação qualificada dos bibliotecários.
Apesar da relevância do SL, a falta de capacitação e o desconhecimento de ferramentas como o Koha podem gerar resistência e insatisfação. Assim, a eficácia do software livre depende do alinhamento entre motivação institucional e engajamento profissional.
Em última análise, o SL é uma ferramenta de democratização e modernização, mas só alcança seu potencial quando sustentado pela participação ativa dos bibliotecários e pelo compromisso com a formação contínua.
Fontes:
https://www.gov.br/ibict/pt-br/servicos/copy_of_tecnologias-para-a-informacao/koha/documentacao-de-apoio
https://www.scielo.br/j/pci/a/GyZr5pffL5Lshhk3zcb4b6B/?lang=pt
https://www.gov.br/ibict/pt-br/assuntos/tecnologias-para-a-informacao/koha
https://www.scielo.br/j/rdbci/a/k9mXSJZ3VBTS3RHR6KZ6Y9m/?lang=pt
https://portalantigo.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/170105_biblioteca_do_seculo_21_cap10.pdf
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/120707/285798.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/69945/1/2022_tcc_hdgoncalves.pdf
ALAUZO, Jorge Luiz Cativo; SILVA, Danielle Lima; FERNANDES, Tatiana Brandão. Funcionalidades de um software livre de automação de bibliotecas: uma avaliação do Biblivre. RACIn – Revista de Arquivologia e Ciência da Informação, João Pessoa, v. 2, n. 2, p. 23-43, jul./dez. 2014. Disponível em: (arquivo fornecido pelo usuário). Submetido em: 05 set. 2014. Publicado em: 28 dez. 2014.
RIBEIRO, Carlos Eduardo Navarro; DAMASIO, Edilson. Software livre para bibliotecas, sua importância e utilização: o caso Gnuteca. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 4, n. 1, p. 70-86, jul./dez. 2006.
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