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Mostrando postagens de julho, 2021

O que e quais são as estratégias de preservação na preservação digital? A preservação digital, ou preservação da informação digital a longo prazo, é uma disciplina essencial da Arquivologia e da Ciência da Informação, cujos objetivos centrais são garantir o acesso, a integridade, a autenticidade e a usabilidade contínua dos documentos digitais ao longo do tempo. Para enfrentar os riscos de obsolescência tecnológica, degradação de suportes e perda de metadados, diversas estratégias de preservação foram desenvolvidas, definidas em normas internacionais e aplicadas por instituições arquivísticas, bibliotecas digitais e repositórios confiáveis. O presente artigo tem por objetivo apresentar, sistematizar e discutir as principais estratégias de preservação digital reconhecidas internacionalmente, com base em literatura especializada, em normas como a ISO 14721:2025 (Modelo de Referência OAIS), ISO 16363 e ISO 16919, bem como nos debates teórico-práticos do Grupo de Pesquisa CNPq “Preservação Digital Sistêmica”. O foco reside na conceituação, aplicação prática e desafios associados a cada uma das estratégias, visando orientar profissionais, estudantes e gestores da informação quanto às boas práticas necessárias para garantir a continuidade da memória digital institucional e social. 1. Estratégias de preservação digital: conceito e fundamentos As estratégias de preservação digital são definidas como os métodos, abordagens e políticas adotadas para garantir a continuidade do acesso a documentos e objetos digitais autênticos e íntegros, mesmo diante da obsolescência de formatos, softwares, hardwares e mídias de armazenamento. Tais estratégias podem ser combinadas e aplicadas de forma articulada, conforme os objetivos, os recursos e os riscos enfrentados por cada organização. A seguir, apresenta-se uma definição detalhada das principais estratégias de preservação reconhecidas. 1.1 Migração A migração consiste na transferência de documentos digitais de um formato, sistema ou suporte para outro, visando preservar sua acessibilidade e funcionalidade. Trata-se da estratégia mais comum em ambientes institucionais. Exemplos: Conversão de arquivos .doc para .odt, ou de formatos proprietários para formatos abertos e padronizados (ex: PDF/A). Migração de sistemas de gerenciamento para plataformas mais recentes (ex: DSpace 5 para DSpace 7). Vantagens: Mantém a usabilidade com tecnologias atualizadas. Desvantagens: Pode haver perda de funcionalidade, formatação ou metadados se a migração não for cuidadosamente planejada. 1.2 Emulação A emulação busca reproduzir o ambiente original (hardware e software) necessário para acessar objetos digitais, por meio de programas que imitam sistemas obsoletos. Exemplos: Uso de emuladores para abrir softwares antigos (ex: emulador de DOS ou de Windows 95 para abrir aplicativos específicos). Acesso a CDs com obras multimídia de décadas anteriores por meio de emuladores de sistema. Vantagens: Mantém a autenticidade da experiência original. Desvantagens: Alto custo de implementação e manutenção; complexidade técnica. 1.3 Encapsulamento O encapsulamento envolve a agregação do objeto digital com seus metadados e softwares associados, em um único pacote lógico que facilite sua compreensão e reinterpretação no futuro. Exemplos: Utilização do formato METS (Metadata Encoding and Transmission Standard) ou BagIt para agrupar arquivo digital + metadados técnicos + documentação de uso. Encapsulamento de vídeos com metadados descritivos, técnicos e de preservação em um único pacote .zip estruturado. Vantagens: Mantém o contexto, os metadados e a documentação juntos ao objeto. Desvantagens: Pode haver dependência de ferramentas específicas para reabrir os pacotes. 1.4 Estratégia de preservação em camadas (layered preservation) Consiste em utilizar múltiplas camadas de estratégias combinadas para aumentar a robustez do plano de preservação. Cada camada cobre uma dimensão distinta: tecnológica, lógica, organizacional. Exemplos: Encapsulamento + migração periódica + emulação como backup. Armazenamento redundante em diferentes locais geográficos com checksums regulares (LOCKSS). Vantagens: Redundância, segurança e confiabilidade. Desvantagens: Custo e complexidade aumentados. 1.5 Estratégia baseada em repositórios confiáveis (Trusted Digital Repositories) Foca na criação e manutenção de repositórios digitais que sigam normas internacionais, com certificação ou auditoria baseada na ISO 16363 ou ISO 16919, garantindo a confiabilidade do ambiente institucional de preservação. Exemplos: Repositórios como Archivematica, RODA, DSpace com módulo de preservação, utilizados por arquivos nacionais ou universitários. RDC-Arq como política pública para o Poder Executivo Federal no Brasil. Vantagens: Sustentação institucional, controle de processos, rastreabilidade. Desvantagens: Necessita de equipe especializada e recursos estáveis. 1.6 Estratégia de preservação distribuída (Distributed Preservation) Baseia-se na replicação geograficamente dispersa de cópias digitais, com sincronização automatizada e verificação de integridade. Exemplos: Iniciativas como LOCKSS (Lots of Copies Keep Stuff Safe) e CLOCKSS. Redes colaborativas de universidades replicando repositórios de teses. Vantagens: Redundância, resiliência contra desastres. Desvantagens: Dependência de conectividade e governança interinstitucional. 1.7 Estratégias baseadas em nuvem (Cloud Preservation) Utiliza infraestrutura de computação em nuvem para armazenar, replicar e preservar objetos digitais em data centers distribuídos. Exemplos: Preservação de sites institucionais em serviços como Internet Archive, Arquivo.pt. Armazenamento e verificação em nuvem com redundância (Amazon Glacier, Google Vault). Vantagens: Escalabilidade, facilidade de acesso. Desvantagens: Dependência de terceiros, riscos de soberania da informação. Conclusão As estratégias de preservação digital constituem uma dimensão essencial da gestão de documentos e informações no contexto contemporâneo. Como se demonstrou ao longo deste artigo, não existe uma solução única e universal: cada organização deve adotar um conjunto articulado de estratégias, compatível com seus recursos, riscos e requisitos legais e institucionais. A preservação digital requer planejamento de longo prazo, políticas claras, capacitação contínua e, sobretudo, compromisso institucional com a memória e a transparência. Recomenda-se que instituições arquivísticas e de memória adotem referencial internacional atualizado, com base no Modelo OAIS, e avancem na certificação de seus repositórios digitais. A construção de repositórios confiáveis, interoperáveis e auditáveis, associados a uma política de gestão documental com cadeia de custódia digital arquivística (CCDA), representa um desafio inadiável no Brasil. Resumo (Português) O artigo apresenta uma análise aprofundada sobre as principais estratégias de preservação digital, abordando conceitos, fundamentos normativos, exemplos práticos e desafios técnicos. A partir das discussões do Grupo de Pesquisa CNPq "Preservação Digital Sistêmica" e de seminários de pesquisa realizados entre 2024 e 2025, sistematizam-se as principais abordagens empregadas por arquivos e instituições de memória, como migração, emulação, encapsulamento, repositórios digitais confiáveis, entre outras. O texto fundamenta-se em normas como ISO 14721, ISO 16363 e em autores reconhecidos, visando contribuir para a consolidação de boas práticas na área. Abstract (English) This article presents an in-depth analysis of the main digital preservation strategies, addressing concepts, normative foundations, practical examples, and technical challenges. Based on discussions from the CNPq Research Group "Systemic Digital Preservation" and research seminars conducted between 2024 and 2025, the main approaches adopted by archives and memory institutions are systematized, such as migration, emulation, encapsulation, trusted digital repositories, among others. The text is grounded on standards like ISO 14721, ISO 16363 and renowned authors, aiming to contribute to the consolidation of good practices in the field. Resumen (Español) El artículo presenta un análisis detallado sobre las principales estrategias de preservación digital, abordando conceptos, bases normativas, ejemplos prácticos y desafíos técnicos. A partir de los debates del Grupo de Investigación CNPq "Preservación Digital Sistémica" y de seminarios realizados entre 2024 y 2025, se sistematizan los principales enfoques utilizados por archivos e instituciones de memoria, como migración, emulación, encapsulamiento, repositorios digitales confiables, entre otros. El texto se basa en normas como ISO 14721, ISO 16363 y en autores reconocidos, con el objetivo de contribuir a la consolidación de buenas prácticas en el área. Résumé (Français) Cet article présente une analyse approfondie des principales stratégies de préservation numérique, en abordant les concepts, les bases normatives, des exemples pratiques et les défis techniques. Basé sur les discussions du Groupe de Recherche CNPq "Préservation Numérique Systémique" et des séminaires menés entre 2024 et 2025, le texte systématise les approches principales adoptées par les archives et institutions de mémoire, telles que la migration, l'émulation, l'encapsulation, les répertoires numériques de confiance, entre autres. L'article s'appuie sur des normes telles que ISO 14721, ISO 16363 et sur des auteurs reconnus, visant à contribuer à la consolidation des bonnes pratiques dans le domaine. Palavras-chave: preservação digital, estratégias de preservação, migração, emulação, encapsulamento, repositório confiável, ISO 14721, ISO 16363, digitalização, autenticidade, arquivos digitais, documentos eletrônicos, preservação em camadas, checksums, bitstream, sistema confiável, metadados, cadeia de custódia, PDS, LOCKSS.

  O que e quais são as estratégias de preservação na preservação digital? A preservação digital, ou preservação da informação digital (documentos, informações, dados e objetos) a longo prazo, é uma disciplina essencial da Arquivologia e da Ciência da Informação, cujos objetivos centrais são garantir o acesso, a confiabilidade, a autenticidade e a usabilidade contínua dos documentos digitais ao longo do tempo. Para enfrentar os riscos de obsolescência tecnológica, degradação de suportes e perda de metadados, diversas estratégias de preservação foram desenvolvidas, definidas em normas internacionais e aplicadas por instituições arquivísticas, bibliotecas digitais e repositórios confiáveis. O presente artigo tem por objetivo apresentar, sistematizar e discutir as principais estratégias de preservação digital reconhecidas internacionalmente, com base em literatura especializada, em normas como a ISO 14721:2012 (Modelo de Referência OAIS), ISO 16363 e ISO 16919, bem como nos debates teó...