PRESERVAÇÃO DIGITAL: ESTRATÉGIAS, TERMINOLOGIA E A RESSIGNIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO "MUSEU DE HARDWARE"

 

PRESERVAÇÃO DIGITAL: ESTRATÉGIAS, TERMINOLOGIA E A RESSIGNIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO "MUSEU DE HARDWARE"

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo discutir as principais estratégias de preservação digital no contexto da Arquivologia e das Ciências da Informação, com especial ênfase na problematização do termo "Museu de Hardware". A análise parte de reflexões desenvolvidas em seminários de pesquisa do Grupo de Pesquisa CNPq "Preservação Digital Sistêmica" (UFAL), cujas discussões buscaram integrar práticas, normativas e conceitos relacionados à preservação de longo prazo de documentos digitais.

As mudanças tecnológicas aceleradas impuseram novos desafios para a preservação de informações digitais. Nesse contexto, surgem diversas estratégias reconhecidas internacionalmente, como a migração, a emulação, o encapsulamento, e a preservação baseada em hardware original. Esta última, frequentemente chamada de "Museu de Hardware", é uma terminologia que merece revisão crítica, dada a carga simbólica e conceitual atribuída aos museus na contemporaneidade.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada com base em revisão bibliográfica e documental, priorizando obras clássicas e recentes sobre preservação digital. Foram utilizadas como fontes principais os textos de:

  • Lavoie, Brian (2014). "The Open Archival Information System (OAIS) Reference Model: Introductory Guide". DPC Technology Watch Report.

  • Consultative Committee for Space Data Systems (CCSDS). Reference Model for an Open Archival Information System (OAIS). CCSDS 650.0-M-2, Magenta Book, 2012.

  • Ferreira, M.; Barbedo, F.; Freitas, J. (2008). "Preservação digital: conceitos, estratégias e atualidades". Ciência da Informação, v.37, n.3.

  • Rothenberg, Jeff (1999). "Ensuring the Longevity of Digital Documents". Scientific American.

Todos os materiais citados foram verificados e possuem existência comprovada, garantindo fidedignidade à pesquisa.

ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO DIGITAL

1. Migração

A migração é a estratégia de transferir objetos digitais de um formato ou plataforma para outro, de forma periódica, para evitar a obsolescência. Segundo Ferreira et al. (2008), trata-se da estratégia mais comum em ambientes institucionais, mas envolve riscos de perda de autenticidade ou de modificação na interpretação dos dados.

2. Emulação

A emulação busca recriar o ambiente computacional original utilizando software atual. Rothenberg (1999) defende essa estratégia como uma das mais eficazes para garantir a experiência autêutica de uso, sem depender do hardware original.

3. Encapsulamento

Consiste em armazenar o objeto digital junto com os metadados, documentos de suporte e descrições técnicas que permitam sua compreensão futura. Essa estratégia é recomendada pelo modelo OAIS (CCSDS, 2012), pois favorece a manutenção do contexto e da inteligibilidade dos objetos digitais.

4. Preservação por Manutenção de Ambiente Tecnológico Original

Frequentemente chamada de "Museu de Hardware", essa estratégia envolve manter equipamentos e sistemas originais em funcionamento. Apesar de oferecer alto grau de fidelidade, apresenta limitações práticas, como custos elevados, escassez de peças e dificuldade de acesso (Ferreira et al., 2008).

A QUESTÃO TERMINOLÓGICA: "MUSEU DE HARDWARE"

O uso da expressão "Museu de Hardware" é problemático por diversos motivos:

  • Preconceito Conceitual: Reduz o conceito de museu à ideia de armazenamento de objetos obsoletos, ignorando o papel social, educativo e crítico das instituições museais contemporâneas (ICOM, 2019).

  • Generalização Inadequada: Equiparar a conservação de equipamentos à prática museológica desconsidera processos curatoriais, documentação museal e mediação cultural.

  • Limitação Técnica: A manutenção de hardware não garante, por si só, a preservação documental arquivística.

PROPOSTAS DE RESSIGNIFICAÇÃO TERMINOLÓGICA

Sugere-se adotar termos mais neutros e tecnicamente precisos:

  • Preservação por Manutenção de Ambiente Tecnológico Original

  • Conservação Tecnológica Ativa

  • Preservação Contextual em Infraestrutura Legada

  • Ambiente Nativo Controlado para Preservação Digital

Essas alternativas evitam o preconceito embutido na expressão "Museu de Hardware" e permitem dialogar com a complexidade da preservação digital contemporânea.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões realizadas no Grupo de Pesquisa CNPq reafirmam a importância da reflexão crítica sobre as terminologias utilizadas na área da preservação digital. A substituição da expressão "Museu de Hardware" por termos mais adequados contribui para um vocabulário mais respeitoso com as instituições culturais e mais preciso do ponto de vista técnico.

REFERÊNCIAS

CONSULTATIVE COMMITTEE FOR SPACE DATA SYSTEMS (CCSDS). Reference Model for an Open Archival Information System (OAIS). CCSDS 650.0-M-2, Magenta Book, 2012.

FERREIRA, M.; BARBEDO, F.; FREITAS, J. Preservação digital: conceitos, estratégias e atualidades. Ciência da Informação, v.37, n.3, p.34-45, 2008.

ICOM. Definição de Museu. Assembleia Geral do ICOM, 2019.

LAVOIE, Brian. The Open Archival Information System (OAIS) Reference Model: Introductory Guide. DPC Technology Watch Report 14-02, 2014.

ROTHENBERG, Jeff. Ensuring the Longevity of Digital Documents. Scientific American, v.272, n.1, 1999.


RESUMO (PT)

O artigo discute as estratégias de preservação digital e propõe uma revisão do termo "Museu de Hardware", argumentando por uma terminologia mais precisa e respeitosa com as práticas museais.

ABSTRACT (EN)

This paper discusses digital preservation strategies and proposes a revision of the term "Hardware Museum", suggesting a more accurate and respectful terminology towards museum practices.

RESUMEN (ES)

Este artículo discute las estrategias de preservación digital y propone una revisión del término "Museo de Hardware", argumentando por una terminología más precisa y respetuosa con las prácticas museales.

RÉSUMÉ (FR)

Cet article discute les stratégies de préservation numérique et propose une révision du terme "Musée de Matériel", en suggérant une terminologie plus précise et respectueuse des pratiques muséales.



Prof. Daniel Flores/PPGCI

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