PREMIS: Metadados de Preservação Digital nas Práticas Arquivísticas e nas Instituições de Memória (GLAM)

 

PREMIS: Metadados de Preservação Digital nas Práticas Arquivísticas e nas Instituições de Memória (GLAM)

RESUMO

O padrão PREMIS (Preservation Metadata: Implementation Strategies) representa uma das principais iniciativas internacionais voltadas à normalização dos metadados necessários à preservação digital de longo prazo. Este artigo científico tem como objetivo apresentar, explicar e discutir o PREMIS a partir de suas versões oficiais, detalhando seus componentes, entidades e elementos essenciais. O estudo ancora-se em uma abordagem qualitativa, documental e aplicada, com revisão da literatura técnica e análise das possibilidades de aplicação do PREMIS em instituições GLAM (Galerias, Bibliotecas, Arquivos e Museus). São apresentados exemplos de implementação do PREMIS em softwares livres como Archivematica, DSpace, Fedora Commons e outros, demonstrando sua relevância para a cadeia de custódia digital arquivística (CCDA) e interoperabilidade com o Modelo OAIS. O artigo é resultado das discussões do Grupo de Pesquisa CNPq Preservação Digital Sistêmica (PDS) da UFAL.

Palavras-chave: PREMIS. Preservação digital. Metadados. Arquivologia. GLAM. Archivematica. OAIS.


1. INTRODUÇÃO

A preservação digital tem sido objeto de intensos debates e formulações normativas desde o final do século XX, principalmente diante da crescente produção de documentos nascidos digitais e da obsolescência tecnológica. O padrão PREMIS (Preservation Metadata: Implementation Strategies) surgiu como uma resposta à necessidade de sistematizar os metadados essenciais à manutenção da autenticidade, integridade, usabilidade e acessibilidade dos objetos digitais ao longo do tempo.

O PREMIS constitui-se em um modelo de dados e um dicionário de metadados desenvolvido pelo PREMIS Working Group, sob coordenação da Library of Congress e apoio do OCLC e RLG. É hoje um padrão consolidado, reconhecido e adotado em diversos contextos institucionais, notadamente em arquivos, bibliotecas, museus, centros de pesquisa e repositórios digitais confiáveis.

Este artigo busca explorar o PREMIS em profundidade, explicando suas versões, estrutura, vocabulário e aplicações práticas, sobretudo no contexto das instituições de memória (GLAM) e Unidades de Informação (UIs). São também apresentados casos de uso e softwares compatíveis com o padrão.


2. METODOLOGIA

Este artigo utiliza uma abordagem qualitativa e descritiva, baseada em pesquisa documental e bibliográfica. As fontes principais são as versões oficiais do padrão PREMIS, em especial o PREMIS Data Dictionary for Preservation Metadata, Version 3.0 (Library of Congress, 2015), bem como publicações acadêmicas, manuais técnicos e documentação de softwares.

Todos os sites, links e documentos citados foram verificados manualmente para garantir a fidedignidade das informações e referências.


3. FUNDAMENTOS DO PREMIS

3.1. Origem e Objetivos

O PREMIS foi lançado oficialmente em 2005 e sua versão mais recente é a 3.0, publicada em 2015. Ele foi desenvolvido com o objetivo de fornecer um conjunto de metadados essenciais à preservação de objetos digitais, sendo compatível com o modelo OAIS (ISO 14721).

Fonte: https://www.loc.gov/standards/premis/

3.2. Estrutura do PREMIS

O modelo do PREMIS é composto por cinco entidades principais:

  • Object (Objeto): representação digital (arquivo, fluxo de bits ou representação agregada)

  • Event (Evento): ações executadas (migração, verificação de fixidade, etc.)

  • Agent (Agente): entidades responsáveis pelas ações (pessoas, organizações ou softwares)

  • Rights (Direitos): permissões legais associadas à preservação

  • Intellectual Entity: representação intelectual do conteúdo (geralmente externa ao PREMIS)

3.3. Elementos Essenciais

Cada entidade do PREMIS possui elementos descritivos e relacionais, como:

  • Identificadores únicos

  • Checksums e algoritmos de fixidade

  • Data de eventos

  • Tipo e descrição do evento

  • Responsável pela ação (agent)

  • Base legal para preservação (rights basis)


4. APLICAÇÕES DO PREMIS EM GLAMs E UIs

4.1. Arquivos Públicos e Privados

Nos arquivos, o PREMIS é usado para garantir a cadeia de custódia digital arquivística (CCDA) e interoperar com Repositórios Arquivísticos Digitais Confiáveis (RDC-Arq). Exemplo: uso em conjunto com o Archivematica, software livre que implementa metadados PREMIS em seus pacotes de informação (Submission Information Package - SIP; Archival Information Package - AIP).

Archivematica: https://www.archivematica.org/en/

4.2. Bibliotecas Digitais

Bibliotecas que operam repositórios como DSpace e Fedora Commons também incorporam PREMIS para registro de eventos de preservação digital (como migração e verificação de integridade).

4.3. Museus Digitais

Museus digitais utilizam PREMIS para documentar transformações de formatos de acervos digitais (como vídeos e imagens em alta resolução), e garantir a integridade e autenticidade desses ativos digitais. Projetos como Europeana e iniciativas do Smithsonian Digital Preservation aplicam PREMIS em suas estratégias de preservação.

Smithsonian Digital Preservation: https://siarchives.si.edu/about/digital-preservation

4.4. Repositórios Acadêmicos

Muitos repositórios de teses, dissertações e datasets de pesquisa implementam PREMIS para rastrear ações de ingestão, curadoria e preservação. O Samvera (anteriormente Hydra) é outro exemplo de plataforma que permite integração com PREMIS.

Samvera: https://samvera.org/


5. DISCUSSÃO

A adoção do PREMIS nas instituições de memória é essencial para garantir práticas eficazes de preservação digital. Sua estrutura modular e sua compatibilidade com o OAIS o tornam um padrão flexível e adaptável. A incorporação do PREMIS nos fluxos de trabalho digitais fortalece a rastreabilidade e a confiabilidade dos objetos preservados.

Além disso, o PREMIS complementa padrões como METS, Dublin Core e MODS, sendo especialmente útil para registrar os metadados administrativos e técnicos de preservação que não estão contemplados nesses outros esquemas.

Sua aplicação prática, no entanto, exige capacitação técnica e integração com ferramentas específicas, o que impõe desafios às instituições com baixa maturidade digital ou recursos limitados.


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O PREMIS é um padrão consolidado e indispensável à preservação digital autêntica, especialmente no contexto de repositórios confiáveis, arquivos públicos, bibliotecas universitárias e museus digitais. Sua utilização, além de promover a segurança jurídica dos ativos digitais, contribui com a interoperabilidade e a conformidade com normas internacionais, como o OAIS e a ISO 16363.

Recomenda-se que os profissionais da informação recebam formação contínua sobre o uso do PREMIS e sua aplicação prática em softwares livres e ambientes institucionais diversos. A articulação entre PREMIS, SIGADs, PCDs, TTDs e RDC-Arq deve ser fomentada pelas políticas públicas arquivísticas.


REFERÊNCIAS

LIBRARY OF CONGRESS. PREMIS Data Dictionary for Preservation Metadata, Version 3.0. 2015. Disponível em: https://www.loc.gov/standards/premis/. Acesso em: ago. 2025.

PREMIS Editorial Committee. Understanding PREMIS. Library of Congress, 2021. Disponível em: https://www.loc.gov/standards/premis/understanding-premis.pdf

SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES. Digital Preservation Strategy. Disponível em: https://siarchives.si.edu/about/digital-preservation. Acesso em: ago. 2025.

DSpace Community. DSpace Documentation. Disponível em: https://wiki.lyrasis.org/display/DSDOC7x. Acesso em: ago. 2025.

Archivematica. User Manual. Disponível em: https://www.archivematica.org/en/docs/. Acesso em: ago. 2025.

Samvera Community. Preservation Metadata using PREMIS. Disponível em: https://samvera.github.io. Acesso em: ago. 2025.

Fedora Commons. Fedora 6 Documentation. Disponível em: https://fedora.lyrasis.org/. Acesso em: ago. 2025.


RESUMOS

Português:

Este artigo apresenta o padrão PREMIS de metadados de preservação digital, detalhando sua estrutura, entidades, elementos e aplicações em arquivos, bibliotecas e museus. Aponta também softwares que implementam o PREMIS e discute sua importância para a cadeia de custódia digital.

English:

This article presents the PREMIS preservation metadata standard, detailing its structure, entities, elements, and applications in archives, libraries, and museums. It also highlights software implementations and discusses its relevance to digital chain of custody.

Español:

Este artículo presenta el estándar PREMIS de metadatos de preservación digital, detallando su estructura, entidades, elementos y aplicaciones en archivos, bibliotecas y museos. También se discute su implementación en software libre.

Français:

Cet article présente la norme PREMIS de métadonnées de préservation numérique, en détaillant sa structure, ses entités, ses éléments et ses applications dans les archives, bibliothèques et musées.

Deutsch:

Dieser Artikel stellt den PREMIS-Standard für digitale Erhaltungsmetadaten vor, beschreibt dessen Struktur, Entitäten, Elemente und Anwendungen in Archiven, Bibliotheken und Museen, sowie dessen Umsetzung in freier Software.

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